Cepa indiana deve agravar 3ª onda e requer vacinação

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Infectologistas alertam sobre gravidade de novo período de alta contaminação e pedem imunizantes, enquanto Brasil está próximo da marca de 450 mil óbitos

 

(Fonte Estado de Minas) Brasília – Muito perto de o Ministério da Saúde registrar 450 mil mortos por COVID-19, o Brasil corre o risco de enfrentar uma terceira onda da pandemia, em razão de outra variante do novo coronavírus. A B.1.617.2, nova cepa do coronavírus, chegou ao Brasil por navio. Tem origem na Índia, país com maior predominância desse tipo viral. A mutação, somada à vacinação lenta no país, pode levar a mais um período crítico, com possível aumento de mortes e casos da doença respiratória e a sobrecarga do Sistema Único de Saúde (SUS). A gravidade da cepa requer novas medidas de combate à trasmissão, como alertam infectologistas.

Na quinta-feira da semana passada, o governo do Maranhão confirmou a primeira infecção pela nova variante do coronavírus no país, até então inédita. A vítima é um indiano de 54 anos, tripulante do navio Shandong da Zhi, vindo da África do Sul. O governador Flávio Dino (PT-MA) demonostrou preocupação com a variante indiana, ao rebater o presidente Jair Bolsonar (sem partido), que o chamou de “gordinho ditador do Maranhão”, ao condená-lo pelas restrições santitárias impostoas no estado. Dino disse que a postura do presidente é deplorável e denota “carência afetiva” nas recentes manifestações que o próprio presidente convocou pelo país em seu apoio.
A B.1.617 é quarto cepa do coronavírus a receber o sinal de “Variante da preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As outras que receberam o mesmo alerta foram: P1 (predominante em Manaus), B.1.1.7 (Reino Unido), e B.1.351 (África do Sul). O boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado na última sexta-feira, alerta que sete estados brasileiros apresentam sinal de crescimento da pandemia no curto prazo. São eles: Amazonas, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Tocantins e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
Ontem, o Brasil chegou a 449.858 mortos por COVID-19, segundo o Painel Coronavírus do Ministério da Saúde e o levantamento do Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass). Ao menos 790 pessoas perderam a luta contra a doença em 24 horas. O número de infectados no período foi de 37.498, e o acumulado desde março do ano passado é de mais de 16,1 milhões de pessoas.
O doutor em Saúde Coletiva e membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) Dário Frederico Pasche explica que o termo mais adequado para os índices de infecções no país é ‘degraus’. “O que temos, no momento, é possibilidade de um terceiro degrau. Se olharmos para este novo patamar, dá para observar que nunca voltamos à situação inicial de índices. Ocorre, na verdade, um agravamento [subida de degraus] do número de casos e óbitos pela doença”, pontua.
Bergamann Ribeiro, virologista e professor do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB), diz ser natural que todo vírus sofra mutações. “Quanto mais pessoas infectadas, a tendência é que novas variantes apareçam. A maioria dessas mutações não favorece os vírus, pois quando invade a célula hospedeira não consegue reproduzir o código genético corretamente. No entanto, outras mutações beneficiam, pois ele consegue mudar a conformação de suas proteínas e entrar com mais facilidade na célula hospedeira e ou até mesmo se multiplicar mais rápido”, explica.
O virologista aponta que, até o momento, o que se descobriu sobre a variante indiana é a possibilidade de o vírus ser mais transmissível, e não mais letal, dada a capacidade dele lutar pela sobrevivência e se adaptar no corpo do hospedeiro. “É difícil dizer que o vírus é mais letal ou não, pois é necessário um número expressivo de dados e estudos para validar com essa hipótese”, comenta.
Bergmann também explica que a vacina ajuda a barrar a interação do coronavírus no organismo, mas que a demora na imunização favorece a replicação do agente, inclusive de novas cepas. “No entanto, sem vacina, mais pessoas estarão expostas à infecção pelo vírus, inclusive às novas variantes. Mesmo com primeira dose, ocorre uma pressão de seleção para que o coronavírus consiga mudar ainda mais”, destaca.

Letalidade

A 20ª semana epidemiológica, que terminou no sábado, contabilizou 13.493 brasileiros mortos pelo vírus. Houve aumento em relação à semana anterior, em que 13.399 pessoas perderam a luta contra o vírus. Já a elevação no número de casos por semana epidemiológica foi maior, e saltou de 440.655 na 19ª semana, para 460.905 na última, crescimento de pouco mais de 4,5%.
Ainda de acordo com o levantamento do Conass, a taxa de letalidade da doença está em 2,8%. A taxa de mortalidade é de 214,1 a cada 100 mil habitantes e a taxa de incidência é de 7.671,2 também a cada 100 mil habitantes. O presidente do conselho, Fernando Pigatto, comentou o número de mortes e criticou a manifestação com a presença do presidente da República, Jair Bolsonaro, no domingo, no Rio de Janeiro (RJ). “Vamos seguir em frente transformando o luto em luta”, afirmou Pigatto. *Estagiários sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza