Frente ao mesmo trimestre de 2020, avanço foi de 1%. Resultado veio acima do esperado, mas ritmo de recuperação perdeu força. Consumo das famílias recuou 0,1%, mas investimentos tiveram alta de 4,6%.
(Fonte G1) O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,2% no 1º trimestre de 2021, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, segundo divulgou nesta terça-feira (1) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 2,048 trilhões.
Os números do IBGE confirmaram que a economia brasileira iniciou o ano em expansão, dando sequência à recuperação dos danos causados pela pandemia de Covid-19, embora o ritmo tenha perdido força – a alta foi menor que a registrada nos dois trimestres anteriores. Ainda assim, o resultado foi suficiente para levar o PIB de volta ao patamar do quarto trimestre de 2019 em termos de volume.
Frente ao mesmo trimestre de 2020, o PIB apresentou crescimento de 1% – a primeira alta após uma sequência de quatro quedas.
O resultado veio acima do esperado. A mediana das projeções de 55 instituições financeiras e consultorias procuradas pelo Valor Data era de alta de 0,7% na comparação com o 4º trimestre, e de 0,5% em relação ao 1º trimestre de 2020.
“Mesmo com a segunda onda da pandemia de Covid-19, o PIB cresceu no primeiro trimestre, já que, diferente do ano passado, não houve tantas restrições que impediram o funcionamento das atividades econômicas no país”, avaliou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia.
PIB volta ao patamar pré-pandemia
“Com o resultado do primeiro trimestre, o PIB voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia, mas ainda está 3,1% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, alcançado no primeiro trimestre de 2014”, destacou o IBGE.
De acordo com a coordenadora da pesquisa, o patamar 3,1% abaixo do pico equivale ao ritmo da economia no final de 2012 e o começo de 2013.
“A gente retornou ao patamar pré-pandemia sem recuperar as perdas de 2015 e 2016. As perdas com a pandemia foram recuperadas nestes três últimos trimestres de crescimento”, explicou Rebeca.
Mesmo com três trimestres seguidos de recuperação, a economia não eliminou, porém, o tombo recorde de 9,2% registrado no 2º trimestre de 2020. No acumulado em 12 meses, o PIB ainda registrou queda de 3,8%, comparado aos quatro trimestres imediatamente anteriores.
Principais destaques do PIB no 1º trimestre
- Serviços: 0,4%
- Indústria: 0,7%
- Agropecuária: 5,7%
- Consumo das famílias: -0,1%
- Consumo do governo: -0,8%
- Investimentos: 4,6%
- Exportação: 3,7%
- Importação: 11,6%
- Construção civil: 2,1%
Agropecuária foi destaque entre os setores
Os 3 grandes setores da economia avançaram nos 3 primeiros meses do ano, contra o quarto trimestre de 2020. O maior crescimento foi da agropecuária (5,7%), seguida pela indústria (0,7%) e serviços (0,4%). O agro, no entanto, foi o único setor em que o crescimento não perdeu força frente aos três meses anteriores.
No agronegócio, a alta foi puxada pela melhora na produtividade e no desempenho de alguns produtos, sobretudo, a soja, que tem maior peso na lavoura brasileira e previsão de safra recorde este ano.
Já na atividade industrial, o avanço foi puxado pelas Indústrias Extrativas (3,2%). Também registraram taxas positivas a Construção (2,1%) e a Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (0,9%). Somente a indústria de transformação teve retração (-0,5%).
Nos serviços – setor mais prejudicado pela pandemia – houve resultados positivos em Transporte, armazenagem e correio (3,6%), Intermediação financeira e seguros (1,7%), Informação e comunicação (1,4%), Comércio (1,2%), Atividades imobiliárias (1,0%) e Outros serviços (0,1%). A única queda foi na Administração, saúde e educação pública (-0,6%).
Consumo das famílias recua com inflação e menos auxílio
Pela ótica da despesa, o consumo das famílias (-0,1%) e o consumo do governo (-0,8%) tiveram queda em relação ao trimestre imediatamente anterior.
“A gente tem visto o governo com problemas orçamentários, não tem tido concursos e tem tido muita aposentadoria, e isso tudo afeta o consumo do governo”, destacou a pesquisadora do IBGE.
O recuo no consumo das famílias – principal motor do PIB nos últimos anos – refletiu a redução do Auxílio Emergencial, o aumento da inflação e o desemprego em patamar recorde. Na comparação com o 1º trimestre do ano passado, queda foi de 1,7%.
“O aumento da inflação pesou, principalmente, no consumo de alimentos ao longo desse período. O mercado de trabalho desaquecido também. Houve ainda redução significativa nos pagamentos dos programas do governo às famílias, como o auxílio emergencial”, destacou Rebeca Palis.
Questionada sobre o que impediu recuperação do consumo das famílias, Rebeca apontou “os efeitos [da pandemia] no mercado de trabalho, a interrupção temporária dos programas do governo e a inflação, está muito relacionada à alimentação”, que impactam diretamente a parcela mais pobre da população.
“A gente sabe que as famílias de renda mais baixa consomem mais bens que serviços, enquanto as de maior renda consomem mais serviços. Os serviços mais consumidos pela população de baixa renda são do governo”, enfatizou.
Taxa de investimento e de poupança crescem
Já os investimentos tiveram alta de 4,6% na comparação com o 4º trimestre.
A taxa de investimento avançou para 19,4% do PIB no 1º trimestre, contra 15,9% no mesmo período de 2020 e de 16,4% no consolidado de 2020.
Segundo a gerente da pesquisa, as principais influências para a alta da taxa de investimento foram “o Repetro, a alta da produção interna de bens de capital, aumento de desenvolvimento de softwares, que vem ganhando peso, além do melhor desempenho da construção civil em relação ao 4º trimestre”.
A taxa de poupança também aumentou, atingindo 20,6%, ante 13,4% no 1º trimestre do ano passado.
“Até pela restrição, pelo isolamento social e o medo do consumo dos serviços presenciais, houve um aumento da poupança, que beneficiou também o sistema financeiro, tanto pelo aumento do crédito quanto pelos depósitos”, destacou Rebeca.
Exportações e importações
No setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram crescimento de 3,7%, enquanto as importações cresceram 11,6% em relação ao quarto trimestre.
Entre as exportações de bens, os setores que mais contribuíram para a alta foram: extração de minerais metálicos, produtos alimentícios e veículos automotores. Já na pauta de importações, destacaram-se os produtos farmoquímicos para a produção de vacinas, máquinas e aparelhos elétricos, e produtos de metal.
Perspectivas para o ano
Apesar da incerteza ainda elevada e das preocupações relacionadas à pandemia e ao ritmo da vacinação no país, indicadores econômicos têm surpreendido positivamente nos últimos meses.
Na última semana, o mercado financeiro subiu a estimativa para o avanço da economia no consolidado no ano para 3,96%. A estimativa oficial do Ministério da Economia aponta para expansão de 3,5% do PIB em 2021, mas o ministro Paulo Guedes diz que o Brasil pode crescer em torno de 4,5% a 5%.
Após a divulgação dos números oficiais do IBGE, analistas revisaram novamente para cima as projeções para o PIB de 2021. O Banco Modalmais, por exemplo, elevou a sua projeção de crescimento da economia no ano para 4,6%. Já a GO Associados passou a estimar avanço de 0,2% no 2º trimestre e revisou de 4% para 5,5% a expectativa para o expansão do PIB no consolidado do ano.
Apesar da surpresa positiva do resultado do 1º trimestre, permanece a avaliação de que o saldo deste segundo ano de pandemia ainda deverá ser uma espécie de “0 a 0”, uma vez que o avanço do PIB de 2021 será muito mais uma devolução do tombo histórico do ano passado.
“Considerando as incertezas sobretudo em relação à vacinação [contra a Covid], ainda é cedo para analisar como será o ritmo da economia ao longo do ano”, apontou Rebeca.
Em 2020, no primeiro ano da pandemia, a economia brasileira caiu 4,1%, registrando a maior contração desde o início da série histórica atual do IBGE, iniciada em 1996, o que tirou o Brasil da lista das 10 maiores economias do mundo.