Projeções são do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Ação Covid-19 e levam em conta queda da imunidade vacinal ao longo do tempo
Fernando Mellis, do R7 – Mesmo com o avanço da vacinação contra a covid-19 neste ano, o Brasil pode voltar a ter um novo pico de infecções e mortes pela doença em 2022, segundo projeções feitas pelo Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Ação Covid-19.
O estudo, intitulado Possíveis cenários da pandemia no Brasil sob diferentes durações de proteção vacinal, leva em conta a taxa média de proteção das vacinas aplicadas no país contra casos sintomáticos da doença — CoronaVac (50%), Janssen (66%), AstraZeneca (76%) e Pfizer (95%) — e uma eventual queda do nível dos anticorpos conferidos por elas em dois cenários: após 12 e 18 meses.
A campanha de imunização começou no Brasil em 17 de janeiro, com profissionais de saúde, seguidos de idosos.
Os pesquisadores incluíram variáveis que podem fazer com que um novo surto impacte mais uma região do que outra. Para isto, criaram o IPC (Índice de Proteção Covid-19), que sumariza e diferencia a desigualdade social em diferentes localidades.
Outros parâmetros incluem a taxa de vacinação de cada estado ou cidade, nível de isolamento social e densidade demográfica, por exemplo.
O grupo concluiu que, sem uma revacinação no começo ano que vem, existe risco de um novo surto de covid-19 no país entre abril e setembro, a depender da duração da imunidade conferida pelas vacinas.
“Já se observa no país a diminuição das medidas de prevenção, com retorno às atividades comerciais e às aulas presenciais, aglomerações em espaços de lazer, realização de festivais de música e eventos esportivos, o que amplia continuamente o risco de transmissão e surgimento de novas variantes, principalmente em cidades com baixo IPC, alta densidade e polos turísticos como o exemplo hipotético da cidade de Olinda-PE”, alerta o estudo.
A epidemiologista Gerusa Figueiredo, uma das autores do estudo e professora do IMT-USP (Instituto de Medicina Tropical de São Paulo), explica que nenhuma vacina confere 100% de proteção contra a covid-19. Só por este motivo uma parte dos imunizados já está suscetível à infecção em um primeiro momento.
Mas com o passar dos meses, seja após a doença ou a vacinação, há um aumento real do risco de infecção ou reinfecção.
“Parece que as pessoas imunizadas têm uma infecção mais branda, com uma carga viral menor — tem as exceções, como os idosos — e a transmissão dessa maneira também fica menor. A médio prazo e longo prazo é como se isso [incidência] fosse se esmaecendo. Pode ser que algum dia aqui no Brasil não tenha mais a epidemia, mas neste cenário próximo, entre um ano e 18 meses, a gente pode sim ter essas taxas de pessoas infectadas e mortes”, acrescenta a pesquisadora, que também é médica infectologista.