Infectologistas defendem que ambiente escolar é seguro, mas adultos precisam reforçar o uso de máscara e protocolos sanitários. Pedagoga vê riscos em volta das atividades remotas, mas recomenda atenção.
Por Emily Santos, g1 – Nas últimas semanas, a média móvel dos casos de Covid-19 voltou a subir no país, chegando mais de 30 mil casos por dia no começo de junho. Muitas cidades voltaram a recomendar o uso da máscara em locais fechados e com aglomeração.
O pediatra e infectologista Marcelo Otsuka é categórico e diz que crianças sem comorbidades ou outros impedimentos médicos devem continuar frequentando as aulas. “O ambiente escolar permanece sendo o mais seguro, especialmente para as crianças que já estão com o cronograma vacinal completo ou que vão tomar a segunda dose em breve”, diz.
Para o especialista, que é coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o que precisa de atenção neste momento é a manutenção dos protocolos sanitários especialmente por parte dos adultos que estão em volta das crianças. “Precisamos ter em mente que os adultos ainda são os principais responsáveis por transmitir o vírus para as crianças, portanto devemos manter os cuidados que já conhecemos. Assim, as crianças podem permanecer frequentando a escola, que é onde devem estar”.
Marcelo Otsuka reforça que nem todas as crianças devem frequentar o ambiente escolar indiscriminadamente, uma vez que certos casos demandam análise médica.
“Algumas crianças não podem ser vacinadas, então têm essa camada de proteção a menos. Crianças com doenças como câncer que fazem tratamento quimioterápico, com doença imunossupressora como aids, ou com imunodeficiências primárias (que têm distúrbio no sistema imune e estão sujeitas a terem infecções recorrente) precisam de atenção maior e dependem da avaliação de um especialista”.
Da mesma maneira, o aluno que está com sintomas de Covid ou tem alguém na família com o vírus deve permanecer em casa pelo período de isolamento.
“São estes cuidados que vão garantir que os casos de Covid voltem a cair”, completa o médico.
Riscos de prejuízo pedagógico são maiores, dizem especialistas
Renato Kfouri, pediatra e infectologista que preside o Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, concorda que os responsáveis devem continuar estimulando as crianças a irem à escola.
“Neste momento, o risco educacional de ficar fora da escola é maior para o aluno. Os prejuízos pedagógicos observados nos últimos anos e o atual momento pandêmico mostram que a escola é o melhor lugar para as crianças”, diz o especialista.
Segundo ele, considerar a suspenção das aulas presenciais e voltar com as atividades remotas é infundado se os demais estabelecimentos continuarem abertos e funcionando sem restrições.
“Não faz sentido estarmos com estádios de futebol, comércio e academias abertos e fechar as escolas. Se for uma situação de lockdown, aí, sim, é recomendado que as aulas presenciais sejam suspensas”, explica.
“Nestes momentos de maior circulação do vírus, devemos ter mais cuidado em todos os ambientes, inclusive nas escolas, e abusar das medidas não farmacológicas como manter o distanciamento, lavar as mãos, manter o uso de máscaras. Mas, deixar de mandar a criança para a escola só vai impedi-la de ter um desenvolvimento educacional fundamental”, completa.
Além disso, completar o esquema vacinal contra a Covid é fundamental, de acordo com o especialista. “O que fez com que essas novas ondas tivessem menos casos graves e menos mortes foi a vacinação. É essa medida que vai impedir que as crianças — e os adultos também — adoeçam do vírus”, finaliza.