Cientistas alertam que o produto não é tão “metabolicamente inerte” quanto se acreditava e consumir doses maiores do que as recomendadas pode trazer malefícios
Por Agência Estado – Os NNS (adoçantes não nutritivos, na tradução em português), como são chamados aqueles que não contêm calorias e não são decompostos em açúcares naturais durante a digestão, podem não ser tão “metabolicamente inertes” quanto se acreditava.
Um estudo publicado no periódico científico Cell na semana passada indica que eles podem afetar a microbiota intestinal e prejudicar as respostas glicêmicas – processo de reação do organismo às mudanças nos níveis de açúcar do sangue.
O estudo clínico randomizado controlado (ensaio experimental mais usado em pesquisa clínica) reuniu 120 participantes que não tinham o hábito de consumir NNS e dividiu os voluntários em seis grupos; dois eram de controle e os restantes receberam, cada um, um tipo de adoçante.
Aspartame, sacarina, sucralose e estévia foram administrados junto às refeições por 14 dias, em doses menores que a máxima diária recomendada, para que seus efeitos pudessem ser avaliados.
Os resultados demonstraram que os adoçantes exercem impactos significativos na saúde metabólica humana e no microbioma. Os grupos que receberam sucralose e sacarina tiveram suas respostas glicêmicas prejudicadas, apresentando aumento de glicose no sangue – o contrário do que buscam as pessoas que substituem o açúcar pelos NNS.
De acordo com a pesquisa, como o consumo de açúcar é fortemente associado ao ganho de peso, a estratégia de consumir adoçantes não calóricos se consolidou como uma das mais comuns no combate à obesidade e à hiperglicemia.
Os pesquisadores consideram que pode ser difícil interpretar os estudos que associam os adoçantes a impactos negativos na saúde devido à causalidade reversa: seria um desafio observar se os NNS causam aumento de peso e hiperglicemia ou se são pessoas com essas condições que fazem uso desses produtos.
Microbioma
“A heterogeneidade nos resultados e metodologias adotadas complica ainda mais a interpretação, o que poderia ser resolvido considerando o microbioma intestinal. O trato gastrointestinal humano abriga trilhões de microrganismos que desempenham papéis críticos em vários aspectos da fisiologia e patologias humanas, incluindo a saúde cardiometabólica”, diz o estudo.
No que diz respeito à flora de microorganismos presentes no corpo humano, as evidências do estudo sugerem que os adoçantes podem influenciar na reprodução de alguns tipos de bactérias. Para essa etapa da pesquisa, a microbiota intestinal humana foi transferida para cobaias.
Os camundongos que receberam sucralose e sacarina demonstraram uma redução na carga bacteriana total de suas fezes, o que pode significar que essas substâncias estejam ligadas à inibição da reprodução de alguns tipos de bactérias da flora intestinal.
Outra hipótese de alteração da microbiota é que outros tipos de bactérias utilizem os adoçantes que chegam ao intestino sem serem metabolizados como combustível, ganhando assim uma vantagem de crescimento. Analisando as alterações apresentadas pelas cobaias, também foram identificadas alterações nos níveis de glicose do sangue, o que sugere que microbiomas alterados por NNS podem causar esse quadro de intolerância à glicose.
“Um microbioma modulado por NNS é suficiente para promover a intolerância à glicose em camundongos, fornecendo uma possível ligação causal entre NNS, microbioma e saúde metabólica do hospedeiro”, considera o estudo.
Entre os humanos que participaram da pesquisa, também houve o indicativo que a flora de microorganismos possa influenciar a resposta glicêmica, mas os pesquisadores consideram que ainda existe uma escassez de evidências sobre os efeitos dos adoçantes não nutritivos na microbiota humana.
Parece brincadeira ou piada de mal gosto, mas pesquisadores da Universidade da Basileia, na Suíça, e do hospital da instituição descobriram que o simples fato de olhar ou sentir o cheiro de comidas gostosas pode desencadear uma resposta inflamatória no cérebro que interfere na produção da insulina, o hormônio responsável por regular e transportar o açúcar para dentro das células do corpo.