Condições climáticas deverão reduzir a produtividade nas lavouras
Em 2021, o milho vem chamando a atenção do mercado e também dos produtores. Em abril, as exportações brasileiras do grão registraram uma alta de 1854%, com o envio de 130 mil toneladas ao exterior, segundo dados preliminares divulgados pelo Ministério da Economia, no dia 3 de maio. Em igual período de 2020, os embarques somaram apenas 6,6 mil toneladas. Com um ritmo forte de vendas, as cotações também seguem em alta, mas existe uma preocupação quanto a produtividade da segunda safra, a safrinha, que pode cair devido às condições climáticas desfavoráveis e o atraso do plantio.
Recentemente, os preços da saca do milho atingiram o valor máximo em oito anos na Bolsa de Chicago e, no Brasil, têm flertado na casa dos R$100,00. De 23 a 30 de abril, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa subiu 1,07%, fechando a R$ 99,76 a saca de 60 kg, no dia 30 de abril. Para o coordenador estadual de Culturas da Emater-MG, Sérgio Brás Regina, o que vem provocando a alta do milho no Brasil são as preocupações com a oferta do produto. “A demanda é grande e o cenário de oferta é incerto, devido aos problemas climáticos e também ao crescimento das exportações do produto, estimuladas pela desvalorização do real frente ao dólar”, explica Sérgio Regina.
Os pesquisadores do Cepea têm a mesma opinião e dizem que a combinação de oferta restrita e demanda aquecida vem elevando as cotações do milho desde meados de fevereiro. O atraso na semeadura e a irregularidade das chuvas em muitas regiões produtoras aumentaram as incertezas quanto à produtividade das lavouras da segunda safra, o que vem reforçando o aumento nos preços, que operam em patamares recordes reais em muitas praças brasileiras.
“As condições climáticas não estão adequadas para a cultura do milho. Algumas consultorias estimam que a safra brasileira será em torno de 100,4 milhões de toneladas, uma queda significativa já que as projeções anteriores eram de mais 112 milhões de toneladas. Principalmente, a seca derrubou a produtividade das lavouras de milho em vários estados produtores da segunda safra”, comenta Sérgio Regina.
Essa situação é verificada no Noroeste de Minas, uma das maiores regiões produtoras de milho do Estado. O coordenador regional da Emater-MG em Unaí, Álvaro Goulart, diz que as chuvas têm sido irregulares, mas não houve perdas significativas nas lavouras. No entanto, deve ocorrer uma redução de produtividade. “A gente esperava uma produtividade média de 90 sacas por hectare, mas agora a expectativa é de 60 sacas por hectare. Sem a chuva para granar o milho, a redução da produtividade deve ser entre 20 a 30% na segunda safra do grão”, diz o coordenador da Emater-MG
Ele lembra ainda que a produção de milho safrinha vem crescendo ano a ano na região, chegando a superar a safra normal como ocorreu em 2019 quando área da primeira safra foi de 78 mil hectares plantados e a segunda de 79 mil hectares. Mas em 2021, apesar dos bons preços do grão, muitos produtores locais ficaram receosos em investir na safrinha, devido ao calendário de plantio e colheita da soja postergado pela demora das chuvas no início da safra, em 2020. “O atraso das chuvas comprometeu a janela ideal para o plantio da segunda safra. Assim a safra normal de milho cresceu bastante, chegando a 110 mil hectares plantados na região (em 2020 foram 75 mil ha), mas na safrinha ficou em 75 mil hectares cultivados, apesar dos ótimos preços”, argumenta Álvaro Goulart.
Subida dos custos de produção
Além das incertezas quanto às condições climáticas devido ao atraso da época do plantio, a alta dos custos de produção também desestimulou muitos produtores a investir na segunda safra. “Os custos de produção têm subido assustadoramente. A maioria dos insumos é dolarizada e o dólar se mantém num patamar alto. E também sempre há alguma especulação de fabricantes e vendedores, que veem um momento para ganhar dinheiro, já que os preços do milho estão beirando os R$100 a saca”, diz Sérgio Regina.
Além da forte elevação dos insumos agrícolas, outra preocupação do coordenador estadual da Emater-MG é com o efeito inflacionário da subida dos grãos no setor agropecuário. “Quando o milho e a soja sobem, eles carregam junto uma série de outros produtos, principalmente da cadeia de proteína animal. Uma boa parte da composição das rações animais é composta por essas duas commodities. Então, será inevitável um impacto na produção de carnes, suínos, aves e ovos, leite, enfim, tudo será afetado”, afirma o coordenador de Culturas.